quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Judiciário tem que ‘expurgar’ Temer, diz general Mourão ao se despedir do Exército e ir para reserva

Despedida do General-de-Exército Antônio Hamilton Martins Mourão em Brasília – Michel Filho / Agência O Globo
O general Hamilton Mourão afirmou na tarde desta quarta-feira que é necessário que o Judiciário “expurgue da vida pública” o presidente Michel Temer (PMDB) e todas as pessoas que, segundo ele, “não tem condições” de participar da vida pública. A fala do general foi logo após a sua cerimônia de despedida do Exército, realizada nesta manhã no Salão de Honras do Comando Militar do Exército e na qual ele exaltou em seu discurso o coronel Brilhante Ustra como “herói” e citou Aristóteles para criticar os “vícios” da política.
À imprensa ele disse que somente com o voto e com a atuação do poder Judiciário o país pode superar a crise do sistema político.
— As pessoas hoje entram na política não para servir, mas para ser servido, esse é o recado — disse, em referência ao seu discurso.
— Se nós não mudarmos a moral do nosso regime, nosso país não vai ter futuro — seguiu o general agora na reserva.
Ele disse ainda que a solução para o regime político passa pelo voto da população e pelo Judiciário que, na visão dele “tem que fazer o papel dele e expurgar da vida pública aquelas pessoas que não tem condições dela participar”.
Questionado se o recado incluía o presidente Temer, Mourão foi categórico:
— Inclui sim senhor.
Perguntado se o recado incluía também outros nomes, ele desconversou e disse não precisava citar nomes.
TROPA DE ELITE
O general da reserva aproveitou ainda para fazer uma referência ao diretor do filme “Tropa de Elite” para afirmar que o sistema político brasileiro está contaminado.
— O José Padilha foi muito feliz ao definir que existe um mecanismo nesse país, esse mecanismo precisa ser desmontado — afirmou.
O presidente Temer já foi alvo de duas denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) e é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de beneficiar empresas portuárias. Como é presidente, as denúncias contra ele precisam passar pelo crivo do Congresso para que ele possa ser julgado pelo STF. As duas acusações já foram apresentadas, porém, derrubadas pelo Congresso.
Como deixou a ativa, o general não tem mais impedimento para se manifestar e até se candidatar politicamente. Mourão, que ficou famoso no ano passado ao sugerir uma intervenção militar para garantir a estabilidade do país, mudou o discurso nesta tarde e disse que a solução para a crise do sistema político tem que ser pelo voto da população.
— A população tem que saber escolher seus representantes — disse à imprensa.
Em seu discurso de despedida aos oficiais, ele foi menos explicito e citou o filósofo grego Aristóteles para afirmar que “sem atenção à virtude, sem cuidados com a base moral de um regime, os homens mais selvagens governarão e nós seremos transformados de animais políticos em bestas políticas”.
— Acredito firmemente que exércitos existem para lutar e vencer as guerras que a nação tiver que travar e ela sabe que nossos objetivos nacionais permanentes de integridade do território, integridade do patrimônio, democracia e paz social, quando ameaçados, terão seus soldados atuando como escudo e espada — seguiu o discurso.
Indagado depois, ele afirmou que sua fala foi uma referência à crise atual do sistema político.
— A moral e as virtudes foram enxovalhadas — afirmou.
Sobre uma eventual candidatura neste ano, ele disse que só será candidato à Presidência do Clube Militar do Rio de Janeiro e que não vai se filiar a nenhum partido político. Sobre o pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSC-RJ), porém, ele afirmou que vai apoiá-lo e que “se tiver que subir no palanque, a gente sobe”, mas que sua atuação em favor dele será no planejamento de campanha e do programa de governo.

O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário