sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

G1: Após estudar em cursinho gratuito, lavador de carros de SP tira nota 920 na redação do Enem 2019

      
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Davi Araújo, de 19 anos, entrou para seleto grupo de estudantes que tiraram nota acima de 900 na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Filho de uma diarista, ele trabalha como lavador de carros em um lava-rápido na Zona Sul de São Paulo e, no ano passado, usou o salário para pagar a condução até o Centro da capital paulista para as aulas do Cursinho Comunitário Modelo.
Os bons resultados de Davi não são os únicos do cursinho, que, depois de quatro anos usando o espaço cedido por uma escola municipal, corre o risco de ficar sem endereço para as aulas de 2020, que começam em fevereiro.
O cursinho foi criado em 2015 a partir de experiências da associação Movimento Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro). No ano seguinte, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Duque de Caxias, localizada no Glicério, na região central, cedeu algumas de suas salas de aulas ociosas no período noturno e aos sábados para as aulas do curso.
Em 2016 e 2019, o cursinho também ofereceu aos alunos do ensino fundamental da escola uma turma de preparação para os vestibulinhos de escolas técnicas (Etecs) e do Instituto Federal de São Paulo (IFSP). Segundo os professores, 100% dos estudantes que fizeram o preparatório até o final conseguiram ser aprovados.
Na virada do ano, porém, o Cursinho Modelo afirma que a escola propôs a manutenção da parceria desde que o Modelo oferecesse apenas aulas aos alunos da escola, e não mais à comunidade em geral. Os professores recusaram, e o impasse foi parar na Secretaria Municipal de Educação, que, em nota, afirmou que “o Cursinho Modelo seguirá em atividade na EMEF Duque de Caxias durante o ano de 2020”.
Metodologia especial
Segundo Tom Junior, fundador do Modelo, a metodologia do cursinho é voltada para um público específico: pessoas que não tiveram acesso a uma educação de qualidade no ensino básico. A seleção entre os mais de 400 estudantes que se inscrevem todos os anos segue poucos critérios, entre eles focar nos jovens negros e de baixa renda, mas especificamente em pessoas interessadas em se dedicar durante um ano ao estudo intensivo e se comprometer com ajudar os outros.
“Nossa seleção não é com base no conteúdo que o aluno já tem, é com a vontade dele de transformação na vida dele e da família dele”, afirmou Junior, que atualmente diz contar com 40 professores voluntários, no aguardo de uma definição sobre onde as aulas serão oferecidas neste ano, para realizar a seleção dos alunos para as vagas.
Topo do ranking do Enem
Davi Araújo foi selecionado no início de 2019 e diz que o cursinho o ajudou a entender mais sobre os vestibulares como o Enem e a Fuvest, que seleciona para vagas na Universidade de São Paulo (USP).
Até então, a única vez que ele tinha feito o Enem havia sido em 2016, quando ele estava no segundo ano do ensino médio. Na época, sua nota na redação foi 420.
Três anos depois, Araújo viu sua nota subir para 920 na segunda tentativa, resultado que ele credita à combinação entre seu esforço e a ajuda dos professores voluntários.
No Enem 2018, só 2% dos candidatos conseguiram nota acima de 900 na redação. Na edição 2017, esse número foi de 1% do universo total. Para a edição deste ano, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) não divulgou os dados detalhados. O Enem 2019 contou com quase 4 milhões de participantes.
Também aprovado para a segunda fase da Fuvest, o lavador de carros aguarda o resultado do vestibular da USP e o do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para conseguir uma vaga na graduação em engenharia da computação.

G1

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