quarta-feira, 22 de abril de 2020

Por Cleoneide Silveira -Acadêmica da ACLA: Ceará-Mirim do Rio Baquipe, do Rio Ceará-Mirim


Apesar de pouco se falar no Rio Ceará-Mirim, este foi de grande importância, tendo dado nome ao Município de Ceará-Mirim, criando um vale próspero no plantio de cana de açúcar e, com isso, elevando o nome do município como referência na produção de açúcar do Estado. Mas não se trata apenas dessa história que muitos até já ouviram falar, mas sim, de conhecer um rio citado em mapas holandeses do século XVII, período em que o território brasileiro ainda estava sendo colonizado.
Sousa apud Cascudo (1955) in Tratado descritivo do Brasil em 1587 afirma que:
“Andando os filhos de João de Barros correndo esta costa, depois que se perderam, lhes mataram neste lugar os potiguares, com favor dos franceses, induzido deles muitos homens. Deste rio Pequeno ao outro rio Grande são três léguas, ...". É justamente no Rio Pequeno, Baquipe, Ceará-Mirim, onde Gabriel Soares de Souza fixa o morticínio. (CASCUDO, 1955, 18).
Tal citação apresenta a relação cordial estabelecida entre os índios Potiguares que ocupavam as margens do Rio Baquipe e os franceses, que trocavam o pau-brasil por bugigangas europeias. Em contrapartida as primeiras tentativas de exploração territorial portuguesa por esse rio fracassaram, devido as investidas indígenas contra os lusitanos.
Além de perceber-se as relações humanas que ali existiram inicialmente, há outro fato importante no relato de Gabriel Soares de Souza que é de o Rio Baquipe ter sido navegável, coisa que nos dias atuais é impossível, na maior parte dos seus mais de 140 km de curso.
Câmara Cascudo em sua obra Nomes da Terra apresenta os vários significados do nome do rio, discordando da denominação de Rio Pequeno.
BAQUIPE: — Nome antigo do Rio Ceará-Mirim. De baqua-pe, o caminho veloz, a estrada rápida. Para mim, BAQUIPE é o RIO DOCE ou RIO DA REDINHA, desaguadouro da Lagoa de Estremoz, despejando no Atlântico na Redinha de Dentro. (CASCUDO, 1968, p.60).
Para os Ceará-mirinenses foi nomeado de Rio dos Homens, Rio da Draga. Foi um rio de bastante volume de água, de modo que provocou muitas enchentes no vale e, mesmo nos períodos menos chuvosos suas várzeas e terras ao seu redor sempre garantiram colheitas abundantes. No intuito de amenizar os prejuízos causados pelas enchentes, no ano de 1959 iniciou-se a construção da barragem (hoje pertencente ao município de poço Branco), a qual foi concluída em 1970. Essa ação deixou as águas do Rio Baquipe/Ceará-Mirim mais perenes.
Inúmeras transformações territoriais ocorreram às margens desse rio. A partir das emancipações políticas dos municípios, pelos quais hoje ele corre, deixou de ser de um passando a pertencer a outro. Mas sua história continua lá! Muitos movimentos realizados durante a semana do Meio Ambiente ou outras atividades pontuais de cada município ocorrem, mas quase sempre de maneira fragmentada, desconectada.
Assim, há que se pensar que o Rio Ceará-Mirim/Rio Baquipe, que foi uma referência importante na divisão das Sesmarias da Capitania do Rio Grande deixou de ser pensado como um único rio, pois as políticas públicas voltadas à sua descontaminação, sua preservação e manutenção de sua história deve pertencer a todos.
Por hora resiste o velho Baquipe, assim como no período da exploração portuguesa. Resiste para encher as suas margens de vegetação; resiste para nos dar vida. Ele levou subsistência e diversão a indígenas, escravos, fidalgos da Vila e a muitas crianças, adolescentes e adultos da Cidade de Ceará-Mirim.
Ainda é tempo! Respeite o Rio Baquipe! Preserve o Rio Ceará-Mirim!

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