Religiões de Matriz Africana
“Em solo brasileiro a religiosidade de origem africana adaptou-se à realidade do regime escravocrata e cristão-católico. Contudo, mesmo sob grande privação, a força milenar da fé desse povo (re)nasceu das cinzas nas senzalas das fazendas e nos quilombos, formando uma vasta gama de denominações religiosas “afro-brasileiras”
Pai Dejair de Ogum, Babalorixá, Instituto Humanitas, Unisinos, São Leopoldo, RS
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As Religiões
de Matriz Africana, como a Umbanda e o Candomblé, entre outras, são
constitutivas da nossa cultura, da essência de ser brasileiro, assim como
tantos outros segmentos religiosos, mas são sempre alvos de discursos de ódio e
de ações que denigrem a dignidade humana de seus adeptos. Inúmeros são os casos
de templos invadidos, de pessoas agredidas, como se não vivêssemos em um Estado
Laico em que cada indivíduo tem o direito de expressar sua cultura e sua
religião.
Mas para
além dessas questões que representam um atraso social e cultural da sociedade
brasileira, essas religiões representam uma riqueza cultural, religiosa e
social inimaginável para aqueles que não as conhecem, desde as roupas, às
comidas, existem histórias, tradições que marcam as raízes do que conhecemos
como Brasil.
Os seres
humanos que vieram da África para serem escravizados no Brasil não trouxeram
apenas sua força de trabalho para erguer esse país, mas atravessaram o Oceano
Atlântico suas tradições, culturas e religiões que se moldaram ao longo dos
séculos para o que hoje conhecemos como religiões de Matriz Africana, de
belezas tão diversas, de gestos humildes como as senhoras do Candomblé que
mantém suas vidas dedicadas as causas humanitárias de suas comunidades, de
tantas histórias que contam e recontam suas origens e seus ancestrais.
O “Povo de
Santo” como mais se conhece os adeptos das religiões Afro-brasileiras, pede
licença apenas para cultuar seus Orixás, relembrar seus ancestrais, cantar suas
divindades. Os “terreiros” representam para esses indivíduos muito mais que
espaços de cultos, e sim um local de resistência contra a discriminação, o
racismo, o preconceito e a violência ainda tão presentes em suas vidas.
Assim,
precisamos compreender os significados dessas religiões para poder tecer algum
comentário sobre elas e não cairmos em devaneios e discursos preconceituosos,
por que o Povo de Axé merece ter sua fé e suas tradições respeitas, e
necessitamos compreender que o Brasil é um país diverso,
assim como é diverso tudo que existe nele.
Ana Paula de Lima
Especialista em História e Cultura Afro-Brasileira
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